O Clube de Leitura Quindim fala sobre a importância da autoestima da criança negra e como incentivá-la desde cedo.

A sociedade vive momentos de transformações, de discussões sobre importantes temas. Um deles, que não pode deixar de ser debatido nunca, é o racismo, o lugar que uma pessoa negra ocupa no mundo e seus vieses históricos. Em meio a tantas informações, posicionamentos e atitudes de pessoas influentes na internet e programas de televisão, uma importante perspectiva a ser discutida acerca desse assunto é a autoestima da criança negra. Impactados por muitas informações externas, que ainda, infelizmente, transbordam termos e atitudes preconceituosas, como os pequenos assimilam e lidam com o amor próprio? Eles, que ainda não entendem a profundidade do problema e não sabem o impacto disso em suas vidas, podem sofrer sem ao menos entender o motivo.

Por isso e por tantas outras razões, cuidar da autoestima da criança negra é fundamental. Ela precisa entender, desde pequena, que é linda, é potente, é importante para sua família e para o mundo. Como ajudar nesse processo? Não é fácil, uma vez que há um mundo lá fora falando e demostrando muitas vezes o contrário, mesmo que de forma sutil – quando, por exemplo, não se entende que um corpo preto pode ocupar qualquer espaço e a voz dessas pessoas é silenciada. Mas os pais e cuidadores devem ter um olhar muito atento a essa questão e abordar, de maneira objetiva e transparente, a importância dessa criança negra se amar e se aceitar.

Autoestima da criança negra: um cuidado hoje, para um futuro mais seguro no amanhã

A autoestima da criança negra

Daisy Fortes, mulher negra, de 48 anos, é cabeleireira e tem duas filhas de 16 anos, e um filho de 27. Ela sempre entendeu a importância de elevar a autoestima dos seus filhos para que estivessem preparados para encarar qualquer situação imposta pela vida e por essa sociedade que ainda respira o racismo estrutural, infelizmente.

“Sobre a questão do preconceito com o meu filho Victor Fortes, eu pontuava da seguinte maneira: você é um homem negro, da periferia. Tem por obrigação estudar, ser honesto e digno, pois o simples fato de ser negro te rotula como marginal, porém é você quem escolhe seus caminhos”, revela.

Ela comenta que essa conversa sempre foi pauta entre ela e o filho, ressaltando que o que o difere de outras pessoas jamais seria a sua cor de pele, e sim seu caráter. “Sendo assim, seja o melhor de você”, ela comentava. Hoje, Victor é um adulto com sua autoestima elevada, se destaca em tudo que faz e não se sente inferior a ninguém pela sua cor de pele.

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Como cuidar da autoestima da criança negra

A importância da autoestima da criança negra

Com as gêmeas Pietra Jhulia e Pietra Victoria, desde que elas nasceram, em 2005, Daisy mudou seu visual, já que usava o cabelo alisado. “Passei a usar meu cabelo crespo, pois eu sentia uma necessidade de identificação das minhas filhas comigo. Nesse processo, aconteceu também a minha aceitação de mulher negra e passei a amar ainda mais meus traços, meu cabelo”, comenta.

Daisy também relembra uma história marcante, relacionada à autoestima de uma de suas filhas. Aos cinco anos, Jhulia chegou da escola dizendo que a amiguinha branca falou que não emprestaria o batom por ela ser preta. “Conversei com ela em frente a um espelho, dizendo o quanto ela era linda, pontuando a beleza dos seus olhos, sua boca. Ela parou de chorar e eu, como mãe e amiga, reforçava essa questão o tempo inteiro com elas, do quanto elas são lindas”, comenta.

Daisy também explicava a suas filhas que não havia, em hipótese alguma, qualquer problema em ser negra, mas sim que o problema estava na cabeça de algumas pessoas. “Mostrava revistas de grandes mulheres negras e belíssimas modelos pretas, comprava bonecas negras e sempre valorizei seus cabelos com acessórios e penteados que as fizessem se sentirem bem. Também as ensinei a cuidar e amar o próprio cabelo desde muito cedo”, revela.

A cabeleireira conta com orgulho sobre Jhulia e Victoria chegarem em casa dizendo que recebiam elogios, o que ajudava na autoestima das duas. “Reforcei muito entre elas que cada uma precisava ter seu próprio estilo. Se decidissem alisar o cabelo, que fosse por vontade própria, mas se decidissem usar crespo, que também fosse pelos seus desejos, jamais por opinião de outras pessoas. E, desde sempre, elas usam cabelo crespo. Cada uma tem seu estilo próprio em se vestir, em usar acessórios”, reforça.

Hoje, as adolescentes sabem que são capazes de ganhar o mundo, e que sua cor da pele não interferirá em nada, nunca. Até mesmo no colégio, elas eram inspiração para muitas meninas negras que se escondiam. Jhulia e Victoria já fizeram oficina de turbantes na escola e participaram de palestras sobre os diversos tipos de preconceito. Os filhos de Daisy são o exemplo de que o cuidado com a autoestima da criança negra é necessário e muito eficaz na construção de adultos seguros e potentes!

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