Imagine sentir o coração acelerado e o corpo suando, mas não saber que aquilo tudo é causado pela raiva ou frustração por ter um desejo negado. Ou, então, sentir as bochechas esquentando, mas não entender que é por vergonha em determinada situação. Se falar sobre emoções pode não ser tão simples na vida adulta, imagine para uma criança que sequer sabe nomear o que está sentindo.
É por isso que, sobretudo na primeira infância, alguns recursos podem ajudar – e muito! – na conversa sobre os sentimentos. “Ainda nesse início, é muito importante uma linguagem simples e exemplos concretos, com pistas visuais que facilitem a compreensão”, explica a psicóloga infantil Carolina Barroso.
Ter as sensações, portanto, não significa sua imediata compreensão – é preciso conversar sobre elas e sobre as situações nas quais costumam acontecer para que a criança seja capaz de reconhecê-las. E esse trabalho deve ser de construção, afinal, não é no momento da explosão ou do choro que se consegue dialogar; é o trabalho prévio e consistente que vai dando aos pequenos as ferramentas para lidar com aquilo que sentem.
“É importante saber nomear os sentimentos para que, ao longo do desenvolvimento, o indivíduo possa se autoconhecer, tendo um maior entendimento sobre si e sobre os outros, e fortalecendo sua capacidade de autorregulação emocional”, ressalta a psicóloga. “Além disso, quando a criança passa a ter consciência sobre o que sente e de que forma sente, fica mais apta a lidar com problemas emocionais quando vierem a acontecer”, acrescenta.
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Como explicar as emoções para a criança?
Se só de pensar em tratar sobre sentimentos com seu filho você já se preocupa, calma. O processo pode ser muito mais tranquilo do que se imagina. Carolina Barroso aconselha a começar com emoções mais fáceis de serem acessadas pelos pequenos, como alegria, tristeza e medo, por exemplo, utilizando recursos lúdicos, entre os quais se destacam livros, fantoches e o chamado quadro das emoções. Também conhecido por nomes semelhantes – como emocionário, quadro de sentimentos, termômetro das emoções, board de humor, emocionômetro, entre outros – trata-se de um recurso útil para que pais, cuidadores e profissionais da educação infantil falem sobre o assunto com as crianças.
Ele é um material visual que ilustra expressões faciais características, como o choro, o sorriso, os olhos arregalados, as bochechas coradas, a testa franzida… Seja com rostos infantis ou personagens – como a Capivara, nossa mascote aqui do Quindim –, o importante é que a criança aprenda a associar aqueles traços a determinadas sensações. Mais do que isso, é essencial que os adultos utilizem esse quadro para conversar, de forma descontraída, sobre situações nas quais aquelas emoções costumam acontecer e até dar seus próprios exemplos.
“A criança entende por meio do processo de aprendizagem social, também chamado de modelação, que é a capacidade do indivíduo de aprender por modelos. Assim, quando ela vê os cuidadores se expressando, compreende que está em um ambiente seguro e propício para falar sobre suas próprias emoções. Além disso, esse diálogo familiar fortalece o vínculo entre pais e filhos”, relata a psicóloga.
Certamente, a conversa precisa ser adequada à fase de desenvolvimento da criança. Não é o caso de falar sobre angústias da vida adulta, mas de trazer relatos acessíveis à infância. “A mamãe também sente raiva às vezes, como no trânsito, que me deixa muito nervosa. Mas eu tento respirar bem fundo para me acalmar e pensar em coisas que me deixam mais tranquila. E você, o que acha que pode fazer para diminuir a raiva, quando ela aparecer?”, é um exemplo.
Como o quadro das emoções ajuda a criança
Segundo Carolina, muitas vezes, as crianças não conseguem diferenciar e nomear os sentimentos. “É como se o estado de tristeza e raiva fossem iguais”, exemplifica. “Assim, com os estímulos visuais necessários, a criança passará a exercitar esse processo de decodificação, facilitando a diferenciação das emoções”, explica. Isso porque apenas falar sobre um sentimento pode ser muito abstrato aos pequenos, mas associar o discurso a uma imagem torna a questão mais acessível ao cérebro ainda em desenvolvimento.
“Com certeza, o quadro das emoções ajuda nesse processo, pois as pistas visuais e concretas trazem uma maior compreensão por parte das crianças. Além disso, quando se traz personagens, elas passam a ter uma identificação maior, facilitando ainda mais a adesão à atividade e o autoconhecimento acerca das emoções”, destaca a psicóloga infantil.
Assim, o quadro das emoções pode ser utilizado nesse trabalho constante de aprendizado e também como espécie de termômetro do dia. A ideia aqui não é procurar uma definição para o estado emocional da criança, mas dar a ela a oportunidade de introduzir o assunto de forma simples, caso sinta essa vontade, ou até mesmo funcionando como um empurrãozinho quando se nota que algo não vai bem. “Hoje o papai está se sentindo um pouco frustrado por um aborrecimento no trabalho… e você? Notei que está com uma carinha um pouco triste” é uma boa forma de propor um bate-papo.
Por fim, Carolina Barroso aponta que, com o passar do desenvolvimento e do amadurecimento cognitivo da criança, é possível apresentar conceitos mais complexos. “Geralmente, por volta dos seis anos, a criança passa a ter um maior entendimento sobre as abstrações, mas não existe uma idade fechada. Podemos ir evoluindo e tratando de situações cotidianas nas quais as emoções são experimentadas, sempre permitindo uma abertura ao diálogo para que facilite esse processo de comunicação e autoconhecimento”, conclui a psicóloga infantil.
O Quadro das Emoções do Quindim
Como entendemos o poder dessa ferramenta visual na dinâmica familiar e na educação emocional dos pequenos, enviamos em maio de 2024 como nosso mimo literário um quadro das emoções com 20 sentimentos lindamente ilustrados por Guilherme Karsten, autor do livro Carona já entregue pelo Clube Quindim. Associado ao potencial transformador da leitura, nosso emocionário chega para deixar o kit do mês ainda mais especial!
Estante Quindim
Conheça 3 livros já enviados pelo Quindim para ler com as crianças que podem ajudá-las a expressar suas emoções: