Quando uma mãe recebe seu bebê em seus braços, ganha também uma porção de expectativas. Muitas delas estão relacionadas a esse novo papel e à mãe que essa mulher pretende ser. À medida que o filho cresce, com frequência muda também a expectativa de maternidade dessa mulher, o que diz muito sobre seu processo de autoconhecimento e sua visão de mundo. Por isso, neste Dia das Mães, procuramos um grupo de mulheres que produzem conteúdo na internet para saber que tipo de maternidade elas querem. Veja a seguir as respostas:
“Eu não saberia responder essa pergunta sem perguntar quais são minhas opções. Eu trocaria o ‘Qual’ pelo ‘como’ e ficaria mais ou menos assim: ‘Como é a maternidade que você quer?’ Eu respondo com uma palavra: RECONHECIMENTO. Não falo só de reconhecimento dentro de casa, mas reconhecimento dentro de todo nosso espaço social. Dessa sociedade que espera o dia das mães para lembrar das mães, que te inviabiliza no mercado de trabalho, pelo simples fato de você ser mãe. Se umas das opções for uma maternidade justa, com direitos preservados e sem julgamentos. É ela minha opção.”
Adrielly Miguel
“A maternidade que eu quero é uma com mais amparo e menos exaustão. Mais compaixão e menos julgamento. Mais leveza e menos peso.
Quero uma maternidade que caiba minha individualidade como mulher. Que eu possa ter meu espaço na sociedade, ser reconhecida pelo meu trabalho, meu posicionamento e não só como ‘a mãe da Valentina’.
Quero poder não dar conta de tudo, sem sofrer pressão externa. Quero uma maternidade mais humana e real, e cada vez menos idealizada e super-romantizada.”
Carmen Castilho, fotógrafa e criadora do projeto Maria Sem-Vergonha
“A maternidade que eu quero é aquela em que cada mulher tem a liberdade, o respeito e o apoio para criar sua própria forma de maternar.”
Juliana de Faria, criadora da ONG Think Olga
“Por muito tempo idealizei a mãe que eu queria ser, até chegar o momento em que me vi mãe de três filhos, uma bem bebezinha, e eu tendo que dar conta de tudo praticamente sozinha. Foi aí que entendi que a maternidade que eu queria era aquela que estava vivendo, sem idealizar a melhor alimentação, a melhor maneira de estimular a criança, a melhor maneira de colocar o berço ou o colchão dentro do quarto. Comecei a entender que a maternidade que eu queria era a que proporcionasse leveza para mim e felicidade para os meus filhos. Quando me entreguei a isso, comecei a experimentar uma maternidade caótica. Eu relutei em me entregar a isso até que entendi que a maternidade caótica é linda, é imprevisível, intensa e muito parecida com o que eu e meus filhos somos. Temos vivido, nesses últimos três anos, um jeito mais leve, mais humano e mais sincero de nos relacionar. E aí eu não olho como se isso fosse a minha maternidade, mas o meu relacionamento com essas três crianças que eu coloquei no mundo, e eu tenho muito orgulho de ter feito isso – eles!”
Luíza Diener, do site Potencial Gestante
“A maternidade que eu quero é livre, acima de tudo. Precisa ser uma escolha da mulher e ter o respaldo da sociedade inteira. A partilha de responsabilidades, da carga mental, do trabalho braçal precisa ser regra, não exceção. E tudo isso deve valer pra TODAS as mães – as negras e/ou de crianças e adolescentes negros e LGBT precisam ter a certeza de que seus filhos voltarão seguros pra casa.”
Marcella Chartier, jornalista e apresentadora do podcast “Mãezonas da Porra”
“Queria ganhar de presente uma maternidade que não tivesse nada que ver com essa criada institucionalmente. Queria uma maternidade livre de culpa, livre da sensação de que podia ter sido mais paciente, mais presente, ter feito uma comida mais saudável, ter posto menos na TV, ter cuidado menos dos temas da minha vida, e mais dos meus filhos. Minha maternidade dos sonhos é aquela que dá espaço para eu ser a mulher que eu sou, dedicada à minha vida pessoal, à minha carreira, ao que me dá prazer, e que ao mesmo tempo permite que eu construa uma relação de qualidade com meus filhos, com espaço para que eles também possam ser quem são – e tudo isso livre de julgamentos.”
Martha Lopes, jornalista, pesquisadora de maternidade e apresentadora do podcast “Mãezonas da Porra”
“A maternidade que eu quero tem apego, tem amor, mas também tem reconhecimento de que ser mãe não é só amor, só cuidado. A maternidade que eu quero tem divisão de tarefas com o pai, tem rede de apoio entre família e amigos, tem compreensão com as mães trabalhadoras. Quero uma maternidade onde as mães não sejam excluídas da vida social porque ‘ah, ela tem filho não deve poder ir com a gente então melhor nem convidar’, ou ‘nossa, ela tem filho, muito difícil de ter um relacionamento’. Quero uma maternidade com respeito, menos fofinha e mais representativa!”
Priscila Cortez, fundadora da marca Maria Tangerina
“A maternidade que eu quero é uma maternidade sem julgamentos, sem palpites e preconceitos. A maternidade que eu quero é com rede de apoio, empatia, sororidade e igualdade. A maternidade que eu quero é aquela em quem as mães não precisem anular suas vidas e nem se sintam excluídas. A maternidade que eu quero é sem carga mental, que cuidem e respeitem nosso emocional.”
Renata, Rude Mamma e criadora do projeto Mumma In Dub
“A maternidade que eu quero é uma maternidade sem prejuízo, em que a gente experiencie a relação com os nossos filhos de uma maneira íntegra, disponível, com tempo e com energia. Em que a gente ocupe nosso papel de mãe, mas também nosso papel na relação, e não só esse lugar imensurável, de responsabilidade, dependência, falta de autonomia, violência e retirada de dignidade. A maternidade que eu quero não tira e não joga toda a responsabilidade do que é tirado sobre a criança. A maternidade que eu quero não faz a criança ser responsável por uma felicidade que não é dela. Dá espaço para a mulher pensar sua vida, ser alguém, ter autonomia e ter história. A maternidade que eu quero não tem padrão, ela é real. A maternidade que eu quero experiencia a rede que está em volta, as pessoas que estão em volta, as políticas que estão em volta, e ela não é deslegitimada. A maternidade que eu quero vê a mãe, não o lugar em que ela deveria estar, mas onde ela está. Problematiza muito além das questões morais. Não vê a mulher-espetáculo, máscara, mentira, mas dá espaço para a gente se ser, se conhecer, se performar e pagar uma conta justa em relação a tudo isso.”
Thaiz Leão, fundadora do Instituto Casa Mãe, autora da Mãe Solo e do livro “O exército de uma mulher só”
Imagem de capa: Barbara Moreno para Mamahood Store.
Confira também: Amor de mãe é instintivo? Em entrevista, Martha Lopes fala de estereótipos maternos