Entenda a definição deste termo e saiba quais são as identidades surdas.

Você sabe o que é identidade surda? Quando buscamos maior inclusão, é essencial pensar na comunidade surda, em sua forma de ver e viver o mundo.

De acordo com um estudo conjunto feito pelo Instituto Locomotiva e pela Semana da Acessibilidade Surda, há 10,7 milhões de pessoas com comprometimento auditivo no Brasil, sendo 2,3 milhões com comprometimento severo, ou seja, aquelas que só escutam sons muito altos.

Por volta da mesma época da pesquisa, uma estimativa do IBGE considerou que a população brasileira era de 210,1 milhões de pessoas. Com isso, temos que 5,09% da população do país têm algum comprometimento auditivo e 1,09% possuem comprometimento auditivo severo.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), em todo o mundo, 466 milhões de pessoas sofrem de perda auditiva com marcas de invalidez, das quais 34 milhões são crianças. A OMS ainda destaca que, até 2050, esse número pode chegar a 900 milhões.

Esses números nos mostram que a surdez é uma realidade para milhões de pessoas de todo o mundo, e o primeiro passo para somar esforços nessa luta por uma sociedade mais inclusiva é conhecer a cultura e a identidade surda.

Continue a leitura para aprender mais sobre um tema que certamente será muito valioso para a sua vida e também para a de seus filhos, netos, sobrinhos e outras crianças e jovens de sua convivência, sejam elas surdas ou não.

O que é identidade surda?

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Basicamente, é o modo que as pessoas com surdez entendem esta condição e a si próprias dentro do contexto em que estão inseridas, o que influencia diretamente sua maneira de se portar, agir e reagir no mundo em que vivem.

A identidade de uma pessoa surda é construída no decorrer de sua vida e sofre influência de uma série de fatores, de suas famílias ao possível contato com comunidades surdas e ao seu grau de inserção nessa comunidade.

Há vários tipos de identidade surda, como veremos adiante, mas há desde aquelas pessoas que incorporam plenamente sua participação na comunidade surda como as que procuram por referências na cultura ouvinte e, com isso, tentam se apropriar dela.

Qual a importância da identidade surda?

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Este é um tema super importante, pois pode influenciar diretamente no bem-estar das pessoas com comprometimento auditivo, ou seja, tem implicações diretas em sua vida.

O assunto já foi abordado até em estudos científicos, como vemos em “The Significance of Deaf Identity for Psychological Well-Being” (A importância da identidade surda para o bem-estar psicológico), publicado no periódico The Journal of Deaf Studies and Deaf Education.

O estudo, feito com 742 adultos com comprometimento auditivo na Dinamarca, examinou como diferentes formas de identidade estavam associadas aos níveis de bem-estar psicológico e uma série de outras variáveis.

Chegou-se, então, à conclusão que pessoas com uma identidade surda auditiva ou bicultural tinham níveis de bem-estar psicológico significativamente mais elevados que aqueles com identidade marginal.

Além disso, descobriu-se que comprometimentos adicionais, níveis educacionais e os sentimentos discriminatórios explicaram, de maneira significativa e independente, o grau de bem-estar psicológico.

Os termos usados para definir as identidades surdas foram diferentes, mas a conclusão que podemos tirar do estudo é que a cultura e a identidade surda são preponderantes para que pessoas com surdez levem uma vida melhor.

Logo, compete a nós entender sobre o assunto e, assim, ajudar os pequenos a também conhecerem tal universo, especialmente os que são surdos. Assim, eles poderão se inteirar mais sobre cultura e identidade híbrida e ter uma vida melhor, como mostrou o estudo.

Essa conscientização, inclusive, se estende também a crianças que não são surdas, pois assim elas podem aprender sobre uma temática tão importante para a inclusão. Falando sobre inclusão, você pode aproveitar para conhecer alguns livros sobre diversidade já enviados pelo nosso clube de leitura.

Veja também: Livros para falar sobre diversidade com as crianças

Quais os tipos de identidade surda?

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De acordo com o Instituto Federal da Paraíba, quando se analisa a literatura, é possível encontrar cinco tipos de identidade surda, que são os seguintes:

1 – Identidade surda

Considera-se o sujeito plenamente inserido na comunidade surda e que reconhece seu pertencimento a ela.

Quem tem identidade surda se comunica apenas em língua de sinais, apresenta características culturais e uma maneira de estar no mundo que se baseia na visualidade, além de defender e lutar pelo direito de manifestar sua diferença e de viver a cultura surda na pele.

As pessoas com identidade surda compartilham suas experiências com outros surdos e participam ativamente no meio, sem trazer qualquer teor de inferioridade em relação à sua condição ou de superioridade em relação a quem não tem surdez.

A identidade surda aceita e valoriza as diferenças da cultura surda e, geralmente, quem se enquadra nela tem surdez desde o nascimento ou a adquiriu quando ainda era muito novo.

2 – Identidade surda híbrida

A identidade surda híbrida é mais presente em pessoas com surdez adquirida, que aprenderam a participar do meio e formar seus pensamentos como ouvintes, além de se comunicar com uma língua oral, mas que passaram a participar do contexto da surdez.

Como eram ouvintes, essas pessoas dependem da língua oral e também da sinalizada, mas elas se reconhecem como surdas, participam das comunidades, demandam direitos pertinentes aos surdos (como legendas e intérpretes, por exemplo) e usam recursos e tecnologias para surdos, como telefones adaptados.

3 – Identidade surda de transição

Na identidade surda de transição, a maioria dos surdos, que vêm de famílias ouvintes, passa por uma transição, já que tentam estar no mundo pela perspectiva ouvinte, mas possuem uma linguagem oral e visual restrita, comum especialmente nos primeiros anos de vida.

Porém, com o passar do tempo, elas adquirem contato com a comunidade surda e, assim, conseguem desenvolver melhor sua comunicação visual e, assim, passam a ter uma experiência visual do mundo.

4 – Identidade surda flutuante

A identidade surda flutuante é comum em pessoas que não se inseriram em comunidades surdas. Elas geralmente têm dificuldade de aceitar sua surdez e, assim, procuram por referências na cultura ouvinte.

Surdos com identidade flutuante seguem a cultura ouvinte e a consideram melhor que a cultura surda, a qual é rejeitada. Mesmo com diferentes níveis de comprometimento auditivo, recorrem a aparelhos auriculares e demonstram orgulho pela apropriação de elementos da cultura ouvinte.

Quem se identifica com a identidade surda flutuante não participa da comunidade surda e não utilizam tecnologias ou auxílios voltados a pessoas surdas, como intérpretes de língua de sinais, por exemplo.

Tais pessoas tentam competir com os ouvintes e passam por alguns conflitos emocionais, que podem até mesmo evoluir para estágios mais graves, como a depressão.

5 – Identidade surda embaraçada

Por vezes referida como identidade surda embaçada, embora o termo correto seja identidade surda embaraçada, ela é bem comum em pessoas que não possuem referências nem na cultura surda e nem na ouvinte.

Elas demonstram dificuldades para se comunicar e, quando usam expressões, elas às vezes não podem ser compreendidas pela outra parte.

Sua vida, comportamento e aprendizados são determinados pela perspectiva de um ouvinte e elas não sabem usar a língua de sinais.

Veja também: O que é alteridade e empatia: quais são as diferenças e como ensinar esses conceitos aos pequenos

Conhecer as identidades surdas é de grande valia para lutar pela inclusão!

o que é identidade surda

As pessoas surdas não são, de maneira alguma, inferiores às ouvintes. Inclusive, dentro da comunidade, a surdez não é considerada uma deficiência, mas sim uma maneira diferente de explorar o mundo. Justamente por isso, inclusive, o uso do termo “deficiente auditivo” não é indicado.

Logo, para os surdos, é super importante que participem ativamente da comunidade e, assim, troquem informações e experiências com quem está inserido no mesmo contexto, o que é benéfico para todos os envolvidos.

Ao conhecer as identidades surdas, percebemos que a forma para a qual a pessoa olha para si faz toda a diferença em relação à sua qualidade de vida, o que também foi endossado pelo estudo que comentamos anteriormente.

Por isso, se você tem uma criança ou jovem surdo em sua família ou círculo social, faça todo o possível para inserir essa pessoa na comunidade surda e, assim, ajudá-la a lidar com o mundo com base na visualidade, de uma maneira diferente, mas que não é melhor ou pior que a perspectiva dos ouvintes.

Ao fazer isso, a tendência é que se desmistifique a consideração de que uma cultura é superior ou inferior à outra. Afinal, todos compartilham o mesmo mundo, cada um de acordo com a sua própria perspectiva.

Ficou claro o que é identidade surda e quais são os tipos de identidade surda? Você tem alguma experiência que poderia compartilhar conosco e com os nossos leitores em relação à cultura e identidade surda? Se quiser, deixe sua opinião nos comentários – ficaremos muito felizes com a sua participação!

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