Como preparar crianças para lidar com os desafios das fake news?
As fake news, ou notícias falsas, se tornaram um assunto recorrente. Elas não são novidade, mas ganharam o noticiário depois que foram apontadas como uma das causas da eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos e da saída do Reino Unido da União Europeia, movimento apelidado de Brexit.
As fake news também viraram pauta porque, com as redes sociais, se por um lado temos a circulação de muito conteúdo interessante e de qualidade; por outro, aparecem cada vez mais matérias sensacionalistas ou que inventam fatos e opiniões – e o algoritmo, o mecanismo que rege o funcionamento do Facebook e mostra o que cada pessoa deve ver dentro da plataforma, pulveriza esses conteúdos, levando a você prioritariamente os assuntos que parecem ser do seu interesse, deixando vozes contrárias de fora.
O resultado é o que já vemos hoje na esfera digital: as informações falsas muitas vezes geram pânico, acirram opiniões, acentuam um mundo polarizado, prejudicam o diálogo e o desenvolvimento de empatia. Em um cenário como esse, é urgente perguntar: como nós, famílias e educadores, podemos driblar esses efeitos e preparar as crianças e jovens para lidar com eles?
Estudiosos de áreas variadas, principalmente da tecnologia, da educação e da comunicação, têm se dedicado a buscar respostas para essa pergunta – e elas são múltiplas, mas reforçam um mesmo ponto: nunca foi tão importante educar as novas gerações para serem leitores críticos, conscientes e bem-preparados para decifrar este mundo de informação – verdadeira e falsa – que se descortina à nossa frente.
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Educação midiática e literária
Ao contrário do que se pensa frequentemente, as crianças e jovens já estão expostos às notícias que circulam pelas mídias e respondem a elas. Um estudo divulgado em março de 2017 pelo instituto norte-americano Common Sense apontou que 48% das 853 crianças de 10 a 18 anos entrevistadas consideram acompanhar o noticiário importante para elas, enquanto 63% contaram que as notícias interferem em suas emoções, gerando sentimentos como o medo, a raiva e a tristeza. Além disso, 44% dos jovens disseram saber identificar fake news, mas 31% deles afirmaram que, nos últimos seis meses, tinham compartilhado notícias que descobriram ser falsas posteriormente.
Assim, um dos pontos mais interessantes do estudo é mostrar que essa nova geração já consome notícias e já está imersa em um ambiente em que circulam informações falsas. Por isso,
mais do que preparar crianças e jovens para serem leitores conscientes no futuro, uma educação midiática se faz necessária para que, já hoje, eles desenvolvam competências para ler o mundo à sua volta e identificar a qualidade e a veracidade daquilo que leem.
Essa educação, que tem sido discutida como matéria integrante do currículo escolar em vários lugares do mundo, ensina a decodificar os conteúdos consumidos em diversas plataformas e ganha força com publicações específicas, dedicadas a traduzir as notícias para esse público.
É o caso da revista Joca, que traz informações para crianças de 8 a 14 anos e circula em escolas públicas e particulares do país. A partir dessa experiência, Stéphanie Habrich, criadora da publicação, contou em um webinar semana passada:
“Notamos que crianças que entram em contato com o ‘Joca’ falam mais com seus pais, conversam de assuntos variados, ampliam seu repertório e conseguem questionar mais a procedência de notícias, identificando fake news. Elas se sentem parte da sociedade”.
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O mesmo acontece quando se há projetos de leitura compartilhada de literatura. Outro estudo, realizado pela Universidade de Nova Iorque, pelo IDados e pelo Instituto Alfa e Beto, demonstrou que
ler literatura para a criança pelo menos duas vezes por semana incentiva o diálogo e traz à mesa a discussão de questões que não seriam abordadas e refletidas entre adultos e crianças se não fosse aquele livro e aquele momento da leitura compartilhada.
Esse hábito oferece uma troca fundamental entre adulto e criança que em geral a rotina diária não permite. E como consequência prática, aumenta o vocabulário, a memória, a empatia… e segue-se uma lista imensa.
Outras iniciativas em desenvolvimento notaram os mesmos efeitos positivos. Em entrevista ao portal Nexo, a pesquisadora espanhola Nuria Fernandez comenta uma série de projetos similares e aponta “estudantes que realizam cursos de alfabetização midiática aumentam sua capacidade para entender, avaliar e analisar as mensagens que são transmitidas pelos meios de comunicação”.
Além disso, é fundamental destacar o papel que os pais e as mães têm nesse processo. De acordo com o estudo da Common Sense, 66% das crianças confiam principalmente em sua família como fonte de informação – professores e outros adultos ficaram com 48%, empresas de mídia com 25% e amigos com 17%. Assim, os familiares precisam estar atentos àquilo que eles mesmos consomem na rede: conferir a procedência da informação, questionar o que leem, consultar veículos reconhecidos e buscar diversos pontos de vista são algumas formas de se proteger das fake news.
O melhor exemplo é o que se vê em casa, por isso vale discutir o assunto com as crianças, incentivar o hábito da leitura e mostrar a importância de disseminar informação de qualidade, que realmente contribua com uma maior construção do conhecimento e com debates ricos e respeitosos. É preciso assim reforçar a importância da leitura como uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento e o fortalecimento das crianças hoje.
Ler para uma criança e introduzi-la ao mundo da literatura estimula sua criatividade, seu senso crítico e sua autonomia. Tratam-se de competências essenciais para atravessar os novos desafios para a infância do século XXI.
Além disso, a leitura é capaz de ampliar o vocabulário e o repertório das crianças, bem como de contribuir com a formação das capacidades cognitivas, sociais e de aprendizado, processo que se dá já na primeira infância. Para isso, busque uma literatura infantil de qualidade, e conte com o Clube Quindim para apoiá-lo nessa tarefa.
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