Você sabe o que é educação inclusiva? Mas, cá entre nós, sabe de verdade mesmo? Quando falamos em educação inclusiva, é natural confundir ou associar com a educação especial. E, ainda que elas estejam de fato relacionadas, não devemos confundi-las, pois não são a mesma coisa.
Enquanto a educação especial foca no indivíduo que tem uma deficiência, seja ela qual for, e luta para garantir os seus direitos, a educação inclusiva conta com uma perspectiva mais ampla. Neste artigo, vamos conversar mais sobre o assunto e trazer alguns conceitos para ajudar na compreensão sobre o tema.
O que é educação inclusiva
Natália Monaco é formada em Educação Física, com Pós-Graduação em Educação Física Adaptada, Mestrado e Doutorado em Psicologia Educacional. Atualmente, é Diretora de Negócios da Turma do Jiló, um negócio social que promove a educação inclusiva por meio de uma série de ações voltadas para os temas relacionados à diversidade. O objetivo principal é gerar transformação social e cultural, tanto nas escolas quanto nas empresas de todo o país.
Natália explica que, quando falamos em educação inclusiva, precisamos considerar que se trata de um conceito educacional que busca tornar o ensino acessível e democrático para todas as pessoas, oferecendo igualdade de oportunidades que considerem a diversidade étnica, religiosa, de gênero, social, cultural, intelectual, física, sensorial, dentre outras, que compõem a nossa sociedade.
Segundo Natália, a educação inclusiva atua considerando o princípio básico de que todo cérebro aprende, cada um de uma maneira, e cada qual no seu tempo. Tendo isso em mente, o objetivo precisa ser o de transformar aquilo que está previsto na legislação em realidade. “Só assim conseguiremos que cada indivíduo possa atuar como cidadão de direito, tendo preservada a sua vida educacional”, explica.
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Educação inclusiva na escola, e também fora dela
Ainda que seja fundamental discutir e defender a educação inclusiva nas escolas, ela não está, necessariamente, restrita ao ambiente escolar. “É possível trabalhar com educação inclusiva em uma empresa, por exemplo, porque a educação é um processo que pode e deve durar a vida inteira”, explica Natália.
Assim, o foco deve estar sempre no aluno, na garantia da sua caminhada do processo de aprendizagem, e no desenvolvimento de competências relacionadas à aprendizagem. A educação inclusiva é fundamental na escola, mas também deve estar presente em todos os espaços, sejam eles de aprendizagem formal, como universidades, cursos técnicos, de formação profissional ou livres, bem como ambientes de aprendizagem informal, como rodas de conversa com amigos, diálogo e convívio com pessoas mais velhas, ou com experiências de vida diferentes da sua, por exemplo.
Características da educação inclusiva
A educação verdadeiramente inclusiva faz mais do que simplesmente receber estudantes com deficiência ou neurodivergência na escola: ela promove uma transformação cultural, na gestão, nas políticas públicas, nos ambientes que recebem os alunos, nas interações com professores, coordenadores, sociedade, família e seus pares, ou seja, outras crianças.
A educação inclusiva é guiada por cinco princípios:
- toda pessoa tem direito à educação;
- toda pessoa aprende;
- o processo de aprendizagem é singular para cada indivíduo;
- o convívio no ambiente escolar beneficia a todos;
- a educação inclusiva diz respeito a todos.
Para verificar se esses princípios estão sendo atendidos e respeitados, há algumas “pistas” que servem de guia tanto para mães, pais e cuidadores, quanto para membros da comunidade escolar, órgãos reguladores e sociedade em geral.
Alguns exemplos são acessibilidade física, sensorial, cognitiva e digital, salas de apoio e multifuncional, equipe multidisciplinar e capacitada para lidar com as diferentes questões e necessidades de suporte dos alunos, adaptação curricular de acordo com as especificidades de cada estudante, e o desenvolvimento de habilidades que vão além do aprendizado do conteúdo puro e simples.
As relações entre coordenadores, professores, alunos, famílias e comunidade como um todo também são fundamentais e devem ser consideradas nesse ecossistema como um sinal de inclusão.
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Importância da educação inclusiva para o convívio com as diferenças
Um dos grandes benefícios da educação inclusiva é o fato de que ela promove a integração entre pessoas de todos os tipos, justamente como deve acontecer na sociedade. Em vez de isolar as pessoas com deficiência em uma instituição que oferece educação especial, ela abre as portas de uma escola regular e convida essas pessoas para entrar.
“No entanto, é como dizem: não basta chamar para a festa, é preciso tirar pra dançar”, diz Natália sobre a inclusão. “Conviver com pessoas diferentes de si promove o respeito, incentiva a tolerância e a inclusão não apenas das questões relacionadas à deficiência física ou à neurodiversidade, mas também das questões culturais, religiosas, sociais e outras”, explica.
Nesse ponto, Natália faz um alerta importante: quando debatemos sobre equidade, é comum ser usada uma ilustração que mostra três pessoas, de diferentes estaturas, tentando olhar por cima de uma cerca. Enquanto uma tem altura o bastante, a segunda precisa de um caixote e, a terceira, de dois.
A especialista destaca que, na educação inclusiva, não se trata de dar uma caixinha para quem precisa de uma, ou duas para quem precisa de duas, mas sim de eliminar todas as barreiras, para que cada um siga como quiser.
“Além de eliminar as barreiras é preciso eliminar, também, toda a discriminação que acontece, os olhares e as palavras, que são agressivas e capacitistas, promovendo um ambiente que consiga contemplar a todos os alunos, independentemente das suas características”, ressalta.
Natália reforça que todos somos preconceituosos de alguma maneira e em algum grau, mas que as crianças ainda não têm esse processo muito desenvolvido. “Elas vão construindo seus valores com base no que estão vendo, nas suas experiências, no seu convívio. Então, quando a gente coloca pessoas diversas para conviver, juntas, e verdadeiramente incluímos todas as pessoas, as crianças passam a entender que está tudo bem ser diferente”, completa Natália.
A literatura na promoção da educação inclusiva
A leitura e a literatura podem facilitar muito o processo de inclusão pela promoção da diversidade. Os livros, a leitura em conjunto, e o debate sobre as histórias são poderosos facilitadores de conversas que, muitas vezes, são sensíveis e sobre temas delicados.
Ler com crianças, adolescentes e jovens sobre pessoas e histórias diversas ajuda a ampliar compreensão sobre as diferenças e fortalece a empatia com aqueles que são diferentes de si, contribuindo também para a desconstrução de estereótipos e preconceitos.
“Livros, histórias, cantigas e brincadeiras são ferramentas muito poderosas para abordar, muitas vezes, temas que são difíceis para a criança compreender, e que podem ser temas sensíveis para ela. Esses são recursos que podem ser usados pelos professores para levantar discussões significativas em sala de aula, e também pelos pais e cuidadores em casa”, reforça Natália.
Desafios da educação inclusiva
Como você pode imaginar, um dos grandes desafios da educação inclusiva é trazer para a realidade aquilo que está previsto na lei. Para Natália, um dos grandes motivos para isso é a questão dos professores, que precisam ser capacitados para conhecer e aprender a lidar com as múltiplas diversidades do ser humano.
“A escola deveria, deve e deverá criar, sempre, um ambiente que seja acolhedor e inclusivo. O professor precisa ter autonomia para implementar diferentes práticas pedagógicas, que reconheçam a individualidade de cada aluno, adaptando o ensino às necessidades de cada aprendiz, e promovendo uma cultura de respeito, colaboração, apoio mútuo, empatia e, sobretudo, de conhecimento”, reforça a especialista.
Natália destaca, também, que a inclusão é um processo que permeia a vida humana. Além de garantir que as pessoas tenham acesso, o foco deve estar em incentivar que todos participem do processo educacional, que se beneficiem do ensino, do currículo e das atividades, independentemente das suas características individuais.
“É preciso ser mais do que apenas inclusivo. É preciso ser acolhedor”, finaliza Natália.
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