Colinho de avó, carinho de avô, ouvir histórias, comer aquela comidinha gostosa e receber todo o afeto que vem do patriarca ou da matriarca da família. Conviver com avôs e avós pode ser um enorme prazer, uma relação de afeto capaz de ultrapassar barreiras geracionais e mostrar outro olhar sobre a vida.

Contudo, como não poderia deixar de ser, o papel dos avós e a forma como se colocam nas famílias também são atravessados pelo tempo e pela cultura. Se há vinte, trinta, quarenta anos, víamos as avós como aquelas que ficavam em casa, sabiam costurar, eram exímias cozinheiras e tinham disponibilidade para auxiliar as famílias no cuidado das crianças, hoje vemos avós inseridas no mercado de trabalho, com muitas atividades e com menos tempo livre para se dedicarem aos netos – um padrão que tende a se acentuar nos próximos anos, e que reflete a mudança da própria condição de vida dos idosos nos últimos anos.

Um Brasil de avós

Por muito tempo, se afirmou que o Brasil era um país de jovens. Isso porque a expectativa de vida era menor e as famílias tinham mais filhos, características que rejuvenesciam nossa população. Hoje, a taxa de natalidade é mais baixa, ou seja, as pessoas têm menos filhos, assim como o número de anos que as pessoas vivem aumentou. De acordo com a socióloga Dulce Whitaker, nos anos 1980, por exemplo, a expectativa de vida girava em torno de 60 anos, mas pulou para os 70 nos anos 2000. Assim, a população com mais de 65 anos passou de 2,4% em 1990 para 5,8% em 2001, com projeção de que chegue a 15% em 2020.

Da mesma maneira, a posição do idoso dentro das famílias também mudou bastante. Whitaker aponta que, até 1960, o Brasil ainda tinha grande parte da população na zona rural. Posteriormente, com a industrialização, a modernização do país, o crescimento das cidades e a entrada de mais mulheres no mercado de trabalho, as famílias sofreram uma transformação. A socióloga fala em um processo de “estilhaçamento dos clãs”, da substituição da família estendida pela família conjugal. Ou seja: as famílias se tornam menores, e também reduziu o contexto em que os avós eram mais atuantes, ajudando no cuidado com as crianças e depois sendo cuidados por todos.

Atualmente, com os recursos da medicina, temos idosos mais dispostos, muitos dedicados ao trabalho por mais tempo. Com isso, por outro lado, não conseguem estar tão presentes na vida de seus netos. Já quando se aposentam ou se veem diante de entraves promovidos pela idade, muitas vezes precisam contar com auxílio de profissionais, uma vez que nem sempre os familiares estão disponíveis para esse cuidado.

Papel dos avós em outras culturas

Na sociedade em que vivemos, pautada pela velocidade e pelo dinamismo, o papel dos avós pode parecer desimportante: estão em uma fase da vida cuja produtividade e ritmo são mais lentos. Entretanto, têm importantes valores a oferecer, como a memória de quem percorreu muitos anos de existência.

Algumas culturas têm a sensibilidade de compreender isso. É o caso da tradição chinesa, por exemplo, em que nasceu Confúcio, filósofo que viveu entre 551 e 479 a.C. Ele já defendia que as famílias respeitassem e obedecessem aos indivíduos idosos. Já no Japão se comemora o Dia do Respeito ao Idoso, um feriado dedicado a celebrar a vida dos mais velhos. Também se pergunta com prazer a idade das mulheres mais velhas, que contam quantos anos têm com satisfação.

São exemplos que podemos adotar por aqui. Como vovôs e vovós, é certo que sua participação na vida dos netos sempre será marcada pelos costumes daquele tempo, mas que essa relação siga sendo de troca e amor.  


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