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Quando pensamos em contos de fadas e histórias infantis, logo nos lembramos de seres mágicos, como animais fofinhos que falam, fadas bondosas que realizam sonhos, princesas apaixonadas e apaixonantes e, claro, o amor verdadeiro.

Quem vê as histórias populares por trás dos mais conhecidos contos infantis não costuma imaginar que algumas de suas versões anteriores podem ser bastante assustadoras, e até mesmo aterrorizantes. É claro que os filmes da Disney estão cheios de bruxas malvadas, mas nada que se compare ao que imaginaram os contadores de histórias de 400 anos atrás.

Por serem histórias tradicionais, posteriormente registradas em vários cantos do mundo, esses contos não possuem uma versão que possamos chamar de original:

O conjunto de contos que imaginamos vir das tradições orais são, na verdade, um emaranhado de fios de língua falada e escrita. Com a difusão da prensa após 1450, também o conhecimento das histórias espalhou-se por estradas e feiras públicas, tão ou mais amplamente do que se estivessem armazenadas apenas na memória de um grupo de pessoas. Com certa velocidade, criou-se uma rede de contadores-leitores ou leitores-narradores em voz alta que, não estando sincronizados on-line por cabos de fibra ótica como hoje, estavam menos solitários e mais solidários uns aos outros pelas fibras do papel.


Peter O’Sagae, no artigo O que são contos populares: da voz ao mundo do livro.

A autoria de vários deles é atribuída a figuras como Charles Perrault, Hans Christian Andersen ou aos Irmãos Grimm, no entanto, há muitas mulheres esquecidas pela História que contaram e registraram contos importantíssimos para nossa cultura. O próprio termo “contos de fadas” é de autoria de Baronesa e Condessa d’Aulnoy, que viveu entre 1652 e 1705. Seu nome, entretanto, raras vezes é citado.

Considerando isso, vamos falar neste artigo sobre a Bela Adormecida e algumas de suas versões registradas ao longo de vários séculos.

A história da Bela Adormecida: o primeiro registro

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Atenção: a história a seguir fala de temas sensíveis como abuso sexual e violência contra crianças.

Segundo os registros históricos, a primeira versão do conto que hoje conhecemos como sendo a Bela Adormecida se chamava Sol, Lua e Talia. Este, inclusive, era o nome da princesa.

Escrito por Giambattista Basile e publicado pela primeira vez no livro O Conto dos Contos em 1634, a história fala de uma princesa que fica desacordada quando uma farpa de linho entra sob sua unha. Aparentemente morta, é abandonada pela família no castelo onde vivia, onde permanece sozinha até o dia em que um rei entra pela janela.

Num primeiro momento, o rei também acha que a princesa está morta. Mas quando se aproxima e percebe que seu corpo ainda está quente, abusa sexualmente dela e depois vai embora, sem saber que a estava deixando grávida de gêmeos.

Nove meses depois, os bebês nascem mesmo com Talia ainda dormindo. Como não conseguem mamar no peito da mãe, passam a sugar seus dedos. É assim que um deles suga o veneno que havia deixado a mãe adormecida por tanto tempo, fazendo que ela acorde logo depois.

Passado algum tempo, o mesmo rei que havia abusado de Talia decide retornar ao castelo onde ela está com o propósito de abusar dela novamente. Ele diz para a rainha que sairá para caçar e vai até Talia, onde a encontra com os dois filhos que não sabia que tinha. Apesar de ter sido informada do horror praticado pelo rei, que ele mesmo conta já que sob seu ponto de vista foi algo absolutamente normal, a princesa aceita sua presença e os dois ficam alguns dias juntos.

De volta ao seu próprio castelo, o rei passa a ter alguns comportamentos que levantam a suspeita da rainha. Não demora muito até que ela descubra a traição que vem sofrendo e, cheia de ódio, decida cozinhar as crianças e oferecer para que o marido adúltero as coma. Quem intervém na última hora é o cozinheiro do castelo, que consegue evitar a tragédia escondendo os bebês em casa e preparando um cordeiro em seu lugar.

A rainha continua revoltada com a traição e decide que irá queimar a princesa em uma fogueira. No dia programado, Talia grita tão alto que consegue chamar a atenção do rei, que impede que ela seja morta.

Ao ouvir a verdade contada pelo cozinheiro a respeito do plano da rainha de cozinhar as crianças e oferecer ao seu próprio pai como refeição, o rei joga a rainha na fogueira e escolhe ficar com a princesa. Os dois se casam e vivem felizes para sempre juntamente com seus filhos.

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A versão de Perrault

A versão do escritor francês Charles Perrault, que é bastante conhecida, foi publicada em 1697 sob o nome “A Bela Adormecida no Bosque”. Inspirada no conto de Basile, a narrativa fala de uma princesa que dormiu durante um século inteiro e acordou somente com o beijo de amor verdadeiro do príncipe que a descobriu.

Ao despertar, a princesa se depara com o príncipe e se apaixona por ele. Os dois decidem se casar secretamente e têm dois filhos: uma menina chamada Aurora e um menino chamado Dia. Vale dizer que o nome da princesa Aurora, como o conhecemos hoje, pode ter surgido a partir daqui.

O nascimento das crianças seria a deixa perfeita para um final feliz, mas a mãe do príncipe fica com raiva por não ter sido informada do casamento e passa a ter como seu principal objetivo acabar com a união dos dois.

Em um dia em que o príncipe sai para caçar, a mãe ciumenta ordena que um caçador mate as crianças e leve-as para que ela as possa comer. O caçador troca as crianças por animais para protegê-las, mas quando a rainha percebe que foi enganada ordena que os pequenos sejam atirados em um poço cheio de serpentes e víboras.

O príncipe volta para casa justamente nessa hora. Assustada com o retorno antecipado do filho, e com ódio por não conseguir fazer o que queria, a rainha se desequilibra e acaba caindo ela mesma no poço, num salto para a morte.

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Ilustração do livro A Bela Adormecida (texto C S Evans, ilustrador Arthur Rackman, editora Sesi São Paulo) já enviado pelo Clube Quindim.

O conto dos Irmãos Grimm

A versão de Jacob e Wilhelm Grimm foi publicada sob o nome “A Rosa dos Espinhos” em 1812, e é a mais parecida com aquela que conhecemos hoje. O conto fala de uma princesa que foi concebida depois de os pais tentarem engravidar durante muitos e muitos anos. Um sapo prevê a gestação e avisa a rainha que em menos de um ano ela teria uma menina nos braços.

Quando isso enfim acontece, o rei dá uma imensa festa, convidando amigos, parentes, conhecidos e as chamadas mulheres sábias, para que pudessem oferecer presentes importantes (as virtudes) para a menina. O problema é que existiam treze dessas mulheres sábias, mas somente doze pratos de ouro onde elas poderiam comer, então uma delas não é convidada e fica de fora da festa.

Enquanto as mulheres faziam seus votos à princesa recém-nascida, desejando que ela tivesse uma vida repleta de riquezas, beleza, inteligência, humildade e muito mais, aquela única que não havia sido convidada invade a festa e roga uma praga: no décimo quinto aniversário, a princesa iria espetar o dedo em um fuso de roca, sendo condenada à morte.

Diante dos convidados incrédulos, do rei e da rainha desesperados, a única das mulheres sábias que ainda não havia concedido seu desejo para a princesa vem adiante e diz: ela não morrerá, mas vai dormir durante cem longos anos.

Numa tentativa desesperada de conter o feitiço, o rei manda acabar com todos os fusos e rocas do reino. Os equipamentos deveriam ser encontrados e destruídos, mas infelizmente não houve como escapar. Quando a princesa cresce e finalmente chega aos quinze anos de idade, encontra uma velha utilizando um fuso em uma das torres mais altas do castelo.

Curiosa sobre o funcionamento da máquina, a princesa estica a mão para tocar o fuso e tal qual a profecia havia previsto, espeta o dedo na roca e cai em sono profundo, que atinge também todos aqueles que moravam no castelo e trabalhavam por ali, incluindo o rei e a rainha.

Com o passar do tempo e a falta de movimento e de vida no castelo, uma grande e espessa cerca de espinhos toma conta de tudo, englobando o castelo e cada coisa que há dentro dele, escondendo-o e impedindo qualquer um que queira tentar entrar. Muitos ouviam os rumores sobre Rosamund, que é como se chamava a princesa, e tentam adentrar o castelo, mas jamais conseguem e acabam morrendo na tentativa.

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Muito tempo depois, com os cem anos de sono profundo prontos para terminar, chega ao castelo um belo príncipe. Ele vê a cerca cheia de espinhos, mas quando se aproxima dela, uma surpresa: os espinhos se transformam em flores!

O príncipe vai caminhando e encontrando muitas pessoas e animais adormecidos, parados em posições e atividades inusitadas como se estivessem congelados no tempo, em cenas interrompidas pelo feitiço rogado há tantos anos.

O príncipe, então, sobe até a torre mais alta do castelo e lá dentro encontra sua bela princesa adormecida. Diante de tanta beleza, ele se abaixa e lhe dá um beijo de amor verdadeiro, fazendo que Rosamund desperte e se apaixone por ele também.

Com isso, o feitiço é quebrado e todos acordam, até mesmo o rei e a rainha, que mal podiam se conter de tanta felicidade. Eles providenciam o mais lindo casamento, e Rosamund e o príncipe finalmente se unem e podem viver felizes para sempre.

A Bela Adormecida contada pela Disney

Como você pode imaginar, a versão mais popular e conhecida d’A Bela Adormecida é da animação produzida pela Disney em 1959. O filme é bastante parecido com a narrativa dos Irmãos Grimm, mas a história traz algumas pequenas diferenças.

Na versão da Disney, em vez de doze mulheres sábias, são apenas três fadas madrinhas, chamadas Fauna, Flora e Primavera. Elas levam Aurora para a floresta e a criam como uma camponesa com o intuito de protegê-la.

Além disso, aquela que fica de fora da celebração do nascimento da princesa Aurora não é apenas uma fada frustrada, mas sim uma bruxa muito poderosa chamada Malévola. É ela quem está disfarçada como a velha a fiar quando Aurora enfim tem o encontro inevitável com a roca e o fuso na torre do castelo.

E, por falar em Malévola, foi somente com o lançamento do live-action estrelado por Angelina Jolie em 2014 que tivemos a oportunidade de conhecer o outro lado da história. Contada sob o ponto de vista da mulher que foi terrivelmente traída pelo pai de Aurora e que teve sua vida destruída, a narrativa fala sobre os laços de afeto que unem Malévola e Aurora, bem como sobre perdoar – aos outros e, sobretudo, a si mesmo.

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