Construção da identidade
Autor: Frank Tashlin
Tradutora: Dani Gutfreund
Editora: Boitatá

Descobrir quem se é e conquistar segurança diante dessa identidade – talvez esse seja um dos maiores desafios de um indivíduo. Afinal, só entrando em contato consigo mesmo é possível construir autonomia, ir atrás do que se quer para a vida e se proteger dos estereótipos e preconceitos que a sociedade nos bombardeia cotidianamente. Mas como diferenciar esses limites durante o processo de construção da identidade?

Um livro entregue pelo Clube Quindim na seleção de outubro pode ser uma boa opção para pensar sobre o assunto. O urso que não era, de Frank Tashlin, conta a história de um urso que hibernava em uma floresta enquanto uma fábrica foi construída ao redor dele. Quando ele despertou, passou a ser confundido com os funcionários da empresa e obrigado a trabalhar. O urso segue afirmando ser apenas um urso, e não um operário. Mas os líderes da companhia continuam dizendo que ele é apenas “um homem bobo que precisa fazer a barba e usa um casaco felpudo”. A confusão se acentua, e, à medida que isso acontece, o próprio urso questiona sua identidade. Inusitada e sensível, essa história fez bastante sucesso e inspirou a animação que você pode ver a seguir.

O começo da construção da identidade

Diferentemente do que ocorre com o urso da história, a criança se dá conta de quem é nos primeiros anos de vida. O psicanalista Sigmund Freud apontava que, inicialmente, o bebê acredita estar em estado de fusão com sua mãe. São as frustrações vividas nesse começo da vida que vão ensinar que ele é um indivíduo independente e solitário. Um dos comportamentos infantis que mostra isso é a ansiedade da separação, quando o bebê chora ao notar que a mãe não está por perto, e que sinaliza sua compreensão de que a mãe e ele são seres diferentes, o que traz o medo de que ela possa abandoná-lo.

Esse processo de separação entre mãe e bebê precisa ser conduzido com cuidado e respeito aos limites da criança, mas de toda forma momentos como esse vão contribuindo para a construção da identidade. Dessa maneira, o pequeno percebe que tem um nome e um corpo próprios, para posteriormente passar a entender que possui habilidades e gostos que são só seus.

Converse com o seu filho

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Conversar com as crianças é fundamental para ajudá-las a diferenciar suas características e gostos dos estereótipos impostos pela nossa sociedade.

Claro que a sociedade e a cultura em que a criança está inserida influenciam na construção dessa identidade. Porém, é importante que os pais apontem como o mundo em que vivemos atravessa nosso processo de autoconhecimento. Para uma criança negra, por exemplo, será fundamental entender que uma sociedade racista pode comunicar que o cabelo crespo não é um cabelo bem-aceito. Conversar sobre esse tema lhe dará elementos para diferenciar sua relação com seu cabelo do que eventualmente ela possa ver estereotipado na mídia ou ouvir de outra pessoa.

Outro elemento importante nesse processo é realmente exercitar a escuta das crianças. Muitas vezes, a infância é tratada como um segmento invisível da sociedade, com suas demandas estereotipadas ou ridicularizadas. Ouvir o que a criança tem a dizer lhe transmite a sensação de acolhimento e de respeito, o que pode fortalecer sua construção de identidade, além de auxiliar os adultos a compreenderem as angústias desse indivíduo.

Literatura infantil e representatividade

Ler para seu filho obras literárias de qualidade, que fujam de estereótipos, clichês, também proporciona oportunidades únicas de troca entre vocês. Obras de qualidade são capazes de abrir novos horizontes, apresentando modelos de diferentes culturas e de modos de ser e enxergar o mundo. Por meio da leitura com seu filho, e da conversa sobre essa leitura, vocês irão entender melhor um ao outro, as preferências de cada um, bem como poderão explorar essas preferências por meio do diálogo. As leituras despertam conversas e reflexões sobre temas que não teriam surgido se não fosse por meio daquele livro.

Igualmente importante é oferecer um repertório amplo de influências e preferências: levar ao teatro, ao cinema e a exposições mostram à criança manifestações artísticas variadas, que ela pode ou não gostar, o mesmo se dá quando apresentamos alimentos bem variados, brincadeiras diversas e por aí vai.

Praticar a empatia e realmente abraçar a diversidade é o primeiro passo. Afinal, como pais e educadores, precisamos o tempo todo compreender que as crianças não são produto de nossas expectativas e de nossos desejos, mas são seres únicos, que devem ser respeitados e amados como são. Só assim poderão se sentir bem consigo mesmos e contribuir para a consolidação de uma sociedade melhor para todos.

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