Aprenda como acolher uma criança ciumenta e entenda que isso geralmente passa longe de ser exagero ou brincadeira.

Você já teve uma criança ciumenta em casa ou está passando por esse momento agora mesmo? Esse é um sentimento bem comum entre os pequenos, mas nós, adultos, nem sempre damos tanta atenção a ele quanto merece, já que ciúme infantil e psicologia estão diretamente relacionados.

Seja por falta de conhecimento ou de calma para lidar com a situação, por vezes tentamos reprimir o ciúme ou deixá-lo para lá, decisão que não é a mais saudável e pode trazer sérias consequências emocionais aos pequenos.

Se você se identificou com isso, fique tranquilo, pois a maternidade e a paternidade naturalmente envolvem muito aprendizado, e nunca é tarde demais para aprender mais sobre o ciúme infantil e como lidar com isso. Inclusive, sua busca por possíveis soluções já é um ótimo primeiro passo!

Continue conosco para aprender mais sobre o ciúme nas crianças, por que ele acontece, como devemos lidar com esse sentimento e como podemos ajudar os pequenos a elaborar suas emoções de forma saudável.

O que é ciúme?

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Há várias definições para esse termo. Porém, uma muito interessante vem dos psicólogos Ayala Pines e Elliot Aronson, autores do artigo Antecedents, correlates, and consequences of sexual jealousy: ciúme é “a reação complexa a uma ameaça perceptível a uma relação valiosa ou à sua qualidade”.

É fato que o artigo aborda o sentimento em um contexto diferente do que vemos no ciúme infantil, mas a definição combina muito bem com o que pode passar pela cabeça dos pequenos quando se sentem enciumados.

Caso eles notem alguma “ameaça” à qualidade da relação valiosa que eles têm com outras pessoas, como seus pais ou cuidadores, é normal que demonstrem reações bem complexas, as quais nem sempre são compreendidas pelos adultos, mas são muito significativas.

As crianças (e também os adultos) podem ter ciúmes de outras “coisas” além das pessoas, como aquele brinquedo tão querido quando está nas mãos de outra criança, por exemplo.

Inclusive, o tema já foi explorado também na literatura, como em Ciúme: O medo da perda, publicado em 1996 pelo psiquiatra e psicoterapeuta Eduardo Ferreira-Santos.

Ciúme infantil e psicologia: por que os filhos têm ciúmes dos pais?

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Basicamente, porque sentem medo de perder uma relação tão intensa quanto possuem com seus pais ou cuidadores, o que envolve, inclusive, um sentimento de exclusividade que pode estar em risco.

Quem já passou por isso no dia a dia sabe como ter uma criança ciumenta é uma realidade, mas a psicologia também já comprovou isso em uma série de estudos e pesquisas.

Uma das fontes mais interessantes vem da síntese Proximal Foundations of Jealousy: Expectations of Exclusivity in the Infant’s First Year of Life (Fundamentos proximais do ciúme: expectativas de exclusividade no primeiro ano de vida do bebê), publicado no periódico Emotion Review.

A síntese, que resumiu estudos sobre evidências de ciúmes em crianças pequenas, apresentou evidências que mostram como fundamento dos ciúmes a história das interações diádicas (entre duas pessoas) com seus cuidadores, que geram expectativas de exclusividade nos pequenos.

Outro fundamento é o amadurecimento das capacidades sociocognitivas dos pequenos, que os permitem avaliar se uma troca entre seu cuidador e outra criança representa uma violação da sua expectativa de exclusividade.

Trocando em miúdos, a investigação dos estudos mostrou que as expectativas de exclusividade conforme surgem vários relacionamentos iniciais, mesmo na ausência de um contato exclusivo, sustentam o argumento de que o ciúme já surge no primeiro ano de vida!

Isso só corrobora o fato de que ter uma criança com ciúmes é algo perfeitamente normal, pois ela demonstra ali uma preocupação de que o elo com seus pais ou cuidadores pode ser enfraquecido, algo super significativo especialmente para seres tão pequenos, amáveis e dependentes quanto os bebês.

Com isso, não restam dúvidas de que ciúme infantil e psicologia estão diretamente relacionados e que, portanto, este é um comportamento legítimo e normal para os pequenos, ou seja, não é nenhum exagero ou brincadeira.

Se você quiser ver um pouco mais sobre ciúmes entre irmãos, pode conferir em nosso blog 4 livros que ajudam na relação entre irmãos.

Veja também: 4 livros que ajudam na relação entre irmãos

O que fazer quando a criança tem ciúmes?

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Ao mesmo tempo em que é perfeitamente possível ter uma criança ciumenta em casa (ou mesmo um bebê, como vimos acima), os pequenos não sabem muito bem como lidar com esse sentimento e, por isso, precisam de ajuda para que isso não se transforme em um problema ainda maior.

É aí que entra o papel conciliador dos pais e cuidadores, que devem fazer todo o possível para que elas se sintam bem mesmo com a presença de outra pessoa no círculo familiar, como um bebê que está na barriga da mamãe ou acabou de chegar a este mundo, por exemplo.

Para ajudar a acolher melhor o ciúme infantil, nós separamos algumas dicas importantes, divididas por faixa etária. Assim, seja qual for a idade do seu pequeno, você saberá como proceder da melhor maneira possível, até mesmo com pré-adolescentes e adolescentes!

Ciúme INFANTIL em bebês (de 0 a 12 meses)

Para os bebês, o ciúme é um instinto de sobrevivência. Afinal, eles dependem dos pais para tudo, e os adultos precisam prover a segurança que eles tanto necessitam, inclusive para o seu desenvolvimento emocional.

Caso note algum sinal de ciúmes, é essencial dar atenção aos pequenos, mesmo que você esteja ocupado e só consiga niná-lo nos braços enquanto precisa fazer alguma outra coisa.

Se houver outro bebê mais novo em casa, uma boa dica é falar para o mais velho sobre o seu irmãozinho. Assim, enquanto o bebê maior quer ouvir o que sua mãe ou seu pai tem a dizer, o menor estará ouvindo sua voz e, assim, também poderá se acalmar.

Ciúme em crianças pequenas (de 1 a 3 anos)

Assim como acontece com os bebês, uma criança com ciúmes reflete a ansiedade da separação. O pequeno começa a exercer sua independência, mas ainda precisa saber que seus pais e cuidadores sempre estarão por perto.

A responsividade, portanto, continua importante, mas com uma diferença: com o avançar da idade, a criança começa a entender as palavras e, com isso, pode praticar um pouco de sua paciência, como quando o pai ou a mãe pede para ela esperar alguns instantes enquanto está ajudando o irmão mais novo.

Inclusive, é natural que crianças de dois ou três anos sintam um pouco de frustração, como quando precisam esperar pela mãe que está ajudando o irmãozinho (mesmo que seja por alguns segundos). Isso pode até mesmo ajudá-las a lidar com emoções desagradáveis.

Não se esqueça de jamais ignorar a criança, pois isso gera insegurança e alimenta ainda mais o ciúme infantil!

Ciúme em crianças em idade pré-escolar (de 3 a 5 anos)

Mesmo com 3 ou 4 anos, as crianças ainda sentem ciúmes por sua necessidade de segurança. Porém, nesta fase, elas começam a apreciar a necessidade de outras pessoas, ou seja, já podemos ajudá-las a reconhecer a emoção do ciúme e a lidar com ele.

Isso significa que é possível dizer ao pequeno que sabemos que eles querem nossa atenção, mas podemos pedir a eles que aguardem um pouco enquanto terminamos alguma outra atividade, por exemplo. Isso tira os medos e dúvidas da criança.

Ajudar os pequenos a identificar o sentimento de ciúme geralmente diminui sua carga emocional. Você também pode conferir em nosso blog sobre a importância da saúde mental infantil: como estão seus pequenos?

Veja também: A importância da saúde mental infantil: como estão seus pequenos?

Ciúme em crianças em idade escolar (de 6 a 12 anos)

Nessa idade, é possível conversar sobre ciúmes de uma maneira diferente. Os pais podem fazer as crianças pensarem por que estão se sentindo enciumadas, ao mostrar que o fato de seu amigo da escola ter outro amigo não significa que ele deixou de gostar do seu filho, por exemplo.

Os pais também podem ajudar seus filhos a entenderem que eles não se tornam menos importantes quando outra pessoa recebe atenção.

Um bom exemplo é quando os pais dizem algo positivo sobre seu irmão, isso não significa que não pensem o mesmo sobre a outra criança. Assim, ajudaremos os pequenos a reconhecer que todos podem ser elogiados e cumprimentados sem que um se torne menos importante que o outro.

Veja também: 10 livros para crianças de 9 a 12 anos

Pré-adolescentes e adolescentes (a partir de 13 anos)

Conforme as crianças entram na adolescência, as mesmas lições de maternidade e paternidade se aplicam. Os pequenos (que não são mais tão pequenos) estão lutando com novas regras sociais e praticando as habilidades para a convivência na vida adulta.

É essencial compreender que pré-adolescentes e adolescentes não querem que seus pais os provoquem, já que eles se deparam com medos tão reais quanto os de uma criança pequena que passa pela ansiedade da separação.

Alguns conselhos valiosos são validar os sentimentos, não ter pressa para consertá-los e ajudar os filhos a encontrar maneiras adequadas de lidar com cada situação, como compartilhar os sentimentos com um amigo ao invés de partir para uma briga.

No final das contas, o ciúme se volta ao nosso senso de identidade. Afinal, todos querem se sentir seguros e amados, e nós, como pais, podemos ajudar bastante com essas garantias tão importantes.

Ciúme infantil: uma realidade que acompanha a todos até a vida adulta

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Às vezes, olhamos para uma criança ciumenta e podemos achar que há algo de errado, quando a verdade é totalmente o oposto. Afinal, se nós, adultos, ainda sentimos ciúmes, quanto mais os pequenos, que ainda estão em uma fase de maturação psicológica e emocional!

Como vimos, ciúme infantil e psicologia se relacionam diretamente e este é um comportamento super normal. Compete a nós, adultos, mostrar para as crianças que estamos por ali, prontos para o que elas precisarem, pois assim as ajudaremos a saber como lidar com este turbilhão de emoções.

Então, mantenha a calma e faça o que estiver ao seu alcance para desmistificar os ciúmes para as crianças, contando com toda a ajuda que tiver à sua disposição, de uma boa rede de apoio ao auxílio da literatura, onde nosso clube de assinatura infantil pode ajudar bastante.

E aí, como você lidou com sua criança com ciúmes? Gostaria de deixar alguma dica para os outros pais e cuidadores cujos pequenos estão passando por isso agora? Deixe sua opinião nos comentários – ficaremos muito felizes com a sua participação.

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