Tem autores infantis que atravessam gerações, despertando as crianças para a riqueza da literatura e para o amor à leitura. Ana Maria Machado é um desses nomes no Brasil. Com mais de 100 obras publicadas em mais de 17 países e 20 milhões de exemplares vendidos, ela levou a literatura infantil brasileira a novos patamares, e com uma linda trajetória celebra 50 anos de carreira em 2019. Para marcar esse momento, atestando seu senso de atualidade e seu enorme poder criativo, lança o livro Brinco de listas, que os assinantes do Clube Quindim recebem antes do lançamento oficial.
Em Brinco de listas, Ana Maria Machado desafia os limites da linguagem, assim como as crianças gostam de fazer no momento que descobrem a sonoridade das palavras. É uma antologia de poemas que aborda elementos do dia a dia e da rotina, utilizando as listas como fio condutor. Assim, com sutileza, a autora levanta questionamentos sobre desmandos, opressões e desrespeito às liberdades individuais – um tema que permeia grande parte de sua obra.
A autora reúne, ainda, reflexões sobre temas contemporâneos que têm rondado a infância. Um deles é o consumismo, essa ânsia de ter sempre mais e de buscar naquilo que pode ser comprado a motivação da felicidade – algo que muitas vezes brota dentro das famílias, como um recurso para amenizar a falta de tempo, por exemplo.
Outro assunto que Ana Maria Machado aborda é a burocratização da vida. Adultos e crianças estão afogados de afazeres, os pequenos frequentemente têm uma agenda repleta de atividades. O ócio e o tédio não são cultivados, ao contrário, é preciso aproveitar produtivamente cada segundo de nosso tempo, como se ele fosse nos aproximar da ideia de sucesso. O cotidiano fica, assim, focado na gestão do tempo, nas obrigações, com pouco tempo para trocas afetivas e a contemplação da vida. São fenômenos que parecem fazer parte do nosso contexto, e quando Ana Maria Machado os traz para seus versos provoca crianças e adultos a refletir sobre eles.
Uma história a se admirar
Nascida no Rio de Janeiro em 1941, Ana Maria Machado iniciou sua carreira como pintora, estudou Letras e foi professora. Começou a escrever para crianças na Revista Recreio, em 1969. Na época, era perseguida pela ditadura militar, e por isso foi exilada do país na França. Ali, conciliou uma tese de doutorado com os primeiros anos da maternidade. Integrou um grupo seleto de estudos na École Pratique des Hautes Études, orientada pelo sociólogo francês Roland Barthes. Desenvolveu, nesse contexto, um trabalho sobre a obra de Guimarães Rosa.
Ana Maria Machado atuou, ainda, como jornalista, tendo trabalhado no Correio da Manhã, no Jornal do Brasil, em O Globo, e colaborado com as revistas Realidade, Veja, IstoÉ, O Pasquim, Opinião e Movimento. Foi editora e sócia da Quinteto Editorial e criou a primeira livraria especializada em livros infantis, a Malasartes.
Seus livros conquistaram uma série de prêmios, entre eles o João de Barro, três Jabutis e vários títulos estrangeiros, como o Prêmio Mulher da Paz, atribuído pela Associação Mil Mulheres para o Nobel da Paz, o Prêmio Ibero Americano de Literatura Infantil e Juvenil – “Hors-Concours”, pela Fundação SM e o Prêmio Lifetime Achievement Award. Também se tornou hors-concours do Prêmio da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e do Prêmio Ibero-Americano de Literatura Infantil. Em 2000, recebeu o Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura para crianças. Foi ainda a sexta ocupante da cadeira de número 1 da Academia Brasileira de Letras, um grande feito para uma escritora mulher no Brasil, já que são poucas as autoras nesse espaço.
Versátil, de obra rica e extensa, Ana Maria Machado deve ser celebrada por tudo o que conquistou, pela rica literatura com a qual segue nos presenteando e pelo que tem feito pela literatura infantil. Conheça mais sobre a sua trajetória no vídeo a seguir, gravado em debate da Global:
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